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Pe. Tallarico

O último mestre-de-capela da Sé de São Paulo

Sabemos que um dos o primeiros mestres-de-capela da Catedral da Sé foi André da Silva Gomes. Poucos conhecem o músico que exerceu este ofício pela última vez. O Audi Coelum quer valorizar este compositor, resgatando o sentido de sua obra litúrgica.

Pe. João Lyrio Tallarico

O Pe. João Lyrio Tallarico, apesar de nunca ter recebido esta nomeação, foi o último mestre-de-capela da Catedral da Sé, trabalhando neste ofício por aproximadamente 30 anos. Formou o Coral Metropolitano de São Paulo, o qual regia e que, inclusive, cantou na consagração da nova Catedral. O Pe. Tallarico tem mais de 3 mil títulos em sua obra, que é marcada fundamentalmente pela música sacra e polifonias (arranjos) de outros autores.

 Pe. Tallarico

Nascido em Buri (interior de São Paulo), em 23 de junho de 1922, já pequeno era coroinha na igreja. Ele é o primeiro entre sete irmãos, três já falecidos, filhos de Maria L. de Almeida e Pascoal Tallarico, que era italiano. O Pe.Tallarico comenta que todos na família eram muito musicais.

Família

Ainda jovem entrou no seminário menor em Botucatu (6 anos) e depois veio a São Paulo, a pedido do cardeal, fazer o seminário maior, cursando 3 anos de Filosofia e 4 anos de Teologia – naquele tempo, os professores davam as aulas em latim. Foi enviado a Roma, para mais dois anos de estudo. Ordenou-se padre aos 24 anos, e para sua surpresa, a missa de ordenação foi ajudada pelo vigário de quem foi coroinha quando menino.

Estudo

Já tocava órgão e dirigia o coro no Seminário menor, mas não se lembra de ter aprendido música: ‘nunca estudei, aprendi sozinho’. No seminário central foi ‘Chefe de Escola’, e apenas em Roma foi cursar música no Instituto Superior de Música Sacra Pio XII, onde teve aulas de harmonia, contraponto, fuga e metódica (curso para conhecer a música). Seus trabalhos eram exemplos para a classe, e um dos professores, ao final do curso, correu ao seu encontro dizendo: ‘Dom Tallarico! Dom Tallarico! Lei hà preso il megliore voto!

Música

Retornando ao Brasil, assumiu o posto de mestre-de-capela na Catedral da Sé. Seu antecessor foi o maestro Furio Franceschini, com quem teve aulas. Furio Franceschini inaugurou o órgão da antiga catedral e fez questão de participar da inauguração da nova Sé, cedendo seu órgão de tubos (atualmente na UNESP) para a consagração da Catedral. Quem tocou foi o Fracalanza, e o Pe. Tallarico regeu o Coral Metropolitano, executando a ‘Missa a 8 vozes’, de Franceschini. O maestro Furio Franceschini viveu até os 96 anos, e tinha muito apreço pela obra do Pe. Tallarico. Sobre seu Magnificat, dizia: ‘Pe. Tallarico, o senhor quando fez esta música não estava na terra, estava no céu’.

Catedral da Sé

Na Catedral, compunha toda a música sacra, para cada ano, de acordo com o texto e seguindo a liturgia. Também era responsável pelas aulas de canto gregoriano (a Schola Cantorum) no seminário. O Coral cantava no coro alto, já que o coro baixo é muito pequeno. Chegou a se apresentar com 200 cantores na escadaria da Catedral.

 

A maior parte de sua obra é em latim, e após o Concílio Vaticano II, em português. Na sua opinião ‘O latim é bonito, mas o povo não está acostumado. Isso não é importante. É mais espiritual e mais formativo escrever algo que o povo compreenda’. Seu estilo é o romano, derivado da harmonização do canto gregoriano, mas quando compõe em português, a prosódia é modificada, e notamos linhas melódicas que nos lembram a canção italiana e também a canção do interior paulista.

A obra

Não teve influência de outros compositores, nem conheceu Camargo Guarnieri ou Osvaldo Lacerda. Era amigo do Pe. Penalva, que veio anunciar seu primeiro lugar no concurso para a escolha do Hino Oficial do Congresso Nacional Eucarístico de Curitiba. O Pe. Tallarico teve alguns alunos de harmonia, mas não se lembra de alguém que tenha se destacado na música.

 

O padre indica sua preferência: ‘O gregoriano é tão sagrado, bonito e de fácil assimilação’. Segundo ele: ‘é a música mais de acordo com o espírito da Igreja’. Por que poucos compositores na música sacra? ‘É preciso ter o espírito da música sacra, ter sentido litúrgico’.

Canto gregoriano

Atualmente o Pe. Tallarico vive em um sobrado no Sumaré. Não consegue mais compor: teve um infarto, um derrame, tem diabetes e está cego de uma vista. Seus anjos da guarda são a Paulinha e a Jane, que cuidam de tudo. Ele se queixa da memória, das palavras que não se lembra... mas ainda conserva uma precisão fantástica para os fatos antigos, e mantém um humor único e fabuloso: ‘Quem pode traduzir: Miserior super turbam (tenha misericórdia deste povo)? Aí diz o aluno: – a miséria só perturba!

A miséria só perturba

O Pe. Tallarico foi homenageado em nosso concerto, dia 20 de novembro de 2004, na Capela do Colégio Nossa Senhora do Sion, onde foi Capelão. Nesse programa apresentamos obras de compositores que trabalharam na Capela Sistina durante o Renascimento. Ofício de mestre-de-capela, assim como nosso Pe. Tallarico.

Homenagem

O Pe. Tallarico faleceu no dia 11 de junho de 2009. Os concertos da Messa de Requiem de André Campra apresentados pelo Audi Coelum em agosto de 2009 foram em memória do Pe. João Lyrio Tallarico, do Pe. Peter Fenech e de José de Souza e Mello Werneck.

Centenário da chegada de Furio Franceschini ao Brasil

O antecessor do Pe. João Lyrio Tallarico como mestre-de-capela da Catedral da Sé foi o maestro Furio Franceschini. Ele chegou ao Brasil em 9 de novembro de 1904 como regente assistente de uma companhia lírica italiana. Estudou na Academia Santa Cecília, em Roma, e teve outros mestres como Capocci, Mouquet, Widor e D'Indy.

Professor, organista e compositor, teve como alunos, além do Pe. Tallarico, Guiomar Novaes, Dinorá de Carvalho e Ângelo Camin. Recusou em duas ocasiões o convite para suceder seu professor Capocci como mestre-de-capela na Basílica São João de Latrão, em Roma. Autor de mais de 600 títulos para diversas formações, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Música, ocupando a cadeira 28, cujo patrono é Ernesto Nazareth.

assinatura de Furio Franceschini

Filippo Franceschini, o pai

Furio e sua irmã Virginia em Roma

Furio Franceschini como cantor da Capela Sistina, ano santo de 1925, sob regência de seu amigo Lorenzo Perosi, que dem ganhou uma batuta

retrato do maestro Furio Franceschini

celebração das bodas do casal entre os filhos

Maestro Furio e seu órgão, na casa do Ipiranga

Furio Franceschini ao órgão na inauguração da Catedral da Sé

Franceschini na inauguração do órgão da Catedral da Sé

o maestro em seu gabinete

O casal Furio e Maria Angelina, filha do Conde Vicente de Azevedo

A casa no bairro do Ipiranga

Franceschini em aula

Furio Franceschini ao órgão

Selo comemorativo ao centenário de nascimento do maestro

Dr. Manoel Antonio Vicente de Azevedo Franceschini, filho caçula do maestro Furio; ao fundo um quadro de seu trisavô

Agradecimento especial pela imensa colaboração ao

Dr. Manoel Antonio Vicente de Azevedo Franceschini