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O barroco jesuíta

arte para o cartaz IHS - Audi Coelum

Notas do programa

Giacomo Carissimi (1605-1674)

Jephte          [texto e tradução]

Segundo Pitoni, outro compositor italiano, Carissimi era "muito amável com todos. Alto, magro e melancólico". Filho de um artesão, Carissimi cantou no coro de crianças da Catedral de Tivoli, onde tornou-se organista aos 19 anos. Trabalhava como mestre-de-capela da Igreja de San Rufino, em Assis, quando foi convidado para lecionar no Colégio Germânico em Roma, acumulando a função de mestre-de-capela da Igreja do Colégio de Sant'Apollinare, posto já ocupado por Tomás Luís de Victoria. Lá permaneceu até o final de sua vida, cuidando da educação musical dos estudantes e do coro de meninos, além da organização musical de S. Apollinare. O Colégio Germânico foi fundado em 1552 para educar jesuítas ao serviço missionário em língua alemã falada nas dominações protestantes. Foi a principal instituição de ensino jesuíta na Europa.

Giacomo CarissimiCarissimi tornou-se sacerdote em 1637, e o prestígio do Colégio Germânico fez com que recusasse ofertas de outras instituições e até de imperadores. Também rejeitou o convite para suceder Claudio Monteverdi na Basílica de San Marco, em Veneza. A ordem dos Jesuítas foi dissolvida em 1773, e o arquivo musical de S. Apollinare foi dispersado. Trinta anos depois, as tropas de Napoleão saquearam Roma, destruindo documentos e partituras do Colégio Germânico. Tudo o que conhecemos de Carissimi são cópias de seus alunos.

A forma do oratório barroco encontrou seu modelo em Carissimi. Inúmeras obras foram escritas para a Congregação do Oratório, uma comunidade de leigos devotos fundada por São Felipe Neri no século XVI. São Felipe pretendia educar e converter o povo com exercícios espirituais lúdicos, incluindo sermões coloquiais e dramatizações das histórias bíblicas em italiano, compreensíveis para os fiéis. Os locais de encontro eram conhecidos como oratório - lugar de oração. Estas dramatizações musicais também receberam o nome de oratório, adotando a técnica do recitativo e arioso com baixo contínuo. Eram próximos da ópera, mas sem figurinos e cenários. Durante a Quaresma, somente oratórios eram permitidos, atraindo também todo o público aficionado em ópera.

Jephte é um oratório em latim, apresentado numa quinta-feira santa por volta de 1649, pelo próprio Carissimi, por encomenda do Oratorio del Santissimo Crocifisso, provavelmente com músicos de Sant'Apollinare e do Colégio Germânico. O texto pode ter sido escrito pelo próprio autor, parafraseando a passagem bíblica em Juízes, capítulos 10 e 11.

Jefté era filho de Galaad e uma prostituta. Como Galaad teve filhos com outra mulher, após sua morte, estes filhos expulsaram Jefté para excluí-lo da herança. Jefté passou a comandar um bando, tornando-se chefe de uma milícia em Masfa.

O povo de Israel, afligido por ataques dos filisteus e amonitas, e sem conseguir conter esta invasão, procura em Jefté um comandante forte. Este faz um voto: se os amonitas caírem nas minhas mãos, aquele que primeiro sair da porta de minha casa para vir ao meu encontro quando eu voltar vencedor do combate, este pertencerá à Iahweh, e eu o oferecerei em holocausto.

Para seu assombro, é sua filha única que vem em sua direção, cantando a vitória do pai e dançando ao som de tamborins. A promessa não pode ser quebrada, sinal de sofrimento, obediência e redenção para Israel. Sua filha faz um único pedido, permanecer dois meses viva, vagando pelos campos com suas companheiras, lamentando sua virgindade. Para a mulher deste tempo, morrer sem descendência era considerado desgraça e desonra, por isso a filha de Jefté parte em profunda lamentação. O lamento final deste oratório marcou a memória de Handel.

 

início do oratório Jephte, de Carissimi



Marc-Antoine Charpentier (1643-1704)
In nativitatem Domini canticum H.416
          [texto e tradução]

Louis Charpentier, copista musical e calígrafo da família Guise, preparou seu filho Marc-Antoine para ser um talento musical a serviço dos duques de Lorraine. Mademoiselle Guise, almejando um excelente maître de musique, enviou Charpentier para estudar em Roma, com Carissimi. Dessa junção do estilo francês e italiano nasceu a genialidade deste compositor.

Descanso na fuga para o Egito - Caravaggio

Charpentier também trabalhou com a Comédie-Français e Molière, que terminara sua parceria com Jean-Baptiste Lully, compositor favorito do rei Louis XIV, e que dominava o meio musical da corte francesa. Lully via a influência italiana como nefasta, e por isso baniu este estilo musical na corte. Charpentier conquistou fama como compositor dramático entre os Guise, que apoiavam a estética italiana, e com o mecenato de Elisabeth d’Orléans, prima e confidente do rei, compondo para igrejas, conventos e instituições religiosas.

Aparição da Virgem a S. Felipe Neri - MarattaComo mestre-de-capela, Charpentier trabalhou na Saint-Chapelle e na Igreja jesuíta de Saint-Louis, para onde escreveu várias obras de Advento e Natal, como as Antiennes "O" de l’Avent, Noël pour les instruments e a Messe de Minuit pour Noël, já apresentadas pelo Audi Coelum. Também para os jesuítas foi escrito o In nativitatem Domine canticum (H. 416) para solistas, coro, flautas, cordas e contínuo.

A Igreja dos Jesuítas tinha como modelo o Il Gesù em Roma. Sua arquitetura e o esplendor da ornamentação barroca atraíam visitantes de todos os lugares. Além das missas, eram celebrados outros serviços ao estilo dos oratorianos (congregação de São Felipe Neri), com dramatizações, música e oração. Muitas europeus, incluindo nobres e cardeais, iam ouvir o jesuíta Louis Bourdaloue, cuja retórica dos sermões coroava as festividades. Assim tivemos, em um natal no início dos anos 1690, este In nativitatem Domini canticum tocado na igreja dos jesuítas, iluminada por mais de 4 mil velas, na presença dos reis da França.

O texto, possivelmente escrito por um colaborador jesuíta, apresenta trechos dos Salmos e do evangelho de São Lucas. Charpentier indica no manuscrito várias pausas dramáticas. Essa atmosfera de reverência e mistério culmina no interlúdio instrumental Nuit. Após un petit silence o anjo convida os pastores à adoração do menino Deus.

manuscrito de Charpentier H.416

O Audi Coelum fez a transcrição desta obra através de fotocópias do manuscrito autógrafo de Charpentier. A pronúncia do latim adotada será a francesa.



Juan de Araujo (1646-1712)

vista de Cuzco

¡Fuego de Amor!          [texto e tradução]

Juan de Araujo emigrou ainda criança, da região de Villafranca, na Espanha, para a América, onde o pai era oficial. Estudou com os jesuítas e foi banido de Lima pelo vice-rei do Peru, provavelmente pelas suas idéias e comportamento humanista. Esteve no Panamá e retornou a Lima, como sacerdote e mestre-de-capela da Catedral. As inúmeras obras encontradas em Cuzco indicam que também tenha trabalhado na capital inca. Seu destino final foi La Plata, atual Sucre (Bolívia), onde deixou cerca de 200 obras, difundidas e encontradas até nas missões da Argentina. As obras de Araujo empenham grande contingente vocal e instrumental, pois o autor dispunha de faustosos recursos proporcionados pelo ouro e pela prata, incluindo inúmeros meninos-índios cantores.


Catedral de Lima, pias



Gaspar Fernandes (1566-1629)
Toquen las sonajas
          [texto e tradução]

O conhecido mestre-de-capela de Puebla de Los Angeles, no México, era português nascido em Évora. Foi para a Guatemala e depois para a Catedral de Puebla, já sacerdote. Seus villancicos foram escritos para evangelizar os índios, imigrantes e africanos, e por isso são escritos em nahuatl, português, espanhol e guineo. Esta fusão de culturas é sintetizada na sua música, revelando o espírito festivo das comemorações religiosas, como o Corpus Christi, quando as irmandades disputavam comédias sacras e entretenimentos. O manuscrito autógrafo de Fernandes foi levado para a Catedral de Oaxaca por um cantor, sendo considerado o maior e mais antigo compêndio musical do novo mundo.
 

Catedral de Puebla de los Angeles

 

Rosemeire Moreira, soprano

Claudia Habermann, soprano

Juliana Christmann, soprano

Natália Aurea, soprano

Fabiana Portas, mezzo-soprano

Clarissa Cabral, contralto

Rúben Araújo, tenor

Emanoel Velozo, tenor

Silas de Oliveira, baixo

Israel Mascarenhas, baixo

Pablo Carvalho, baixo


Beatriz Aléssio, órgão

Regina Schlochauer, cravo

Edilson de Lima, teorba & guitarra barroca

Patrícia Michelini e Marcelo Queiroz, flautas

Marialbi Trisolio, violoncelo

 

Violinos
Simona Cavuoto (spalla)
Matthew Thorpe
Andrea Campos
Paula Thaís Brunelli Ramos
Paulo Cesar Paschoal
Andreas Uhlemann


Violas
Peter Pas
Samuel Passos

 

Violoncelo

Marialbi Trisolio


Contrabaixo
Ney Vasconcellos
 

Roberto Rodrigues, regência
 

 

Apoio operacional
Otávio Simões
Lamartine Villela

Suzana Saccardo

André Pavão

 

Agradecimentos

Daniel Issa
Ismael Caetano
Adriana Carvalho
Sérgio Sesiki
Eleni Cervera
Manoel dos Santos Jr
Nelson Kunze
Déborah Rossi
Pe. Nilson Marostica
Dom Abade Mathias Tolentino Braga

Dom Eduardo Uchôa

Dom Adriano Bellini

Dom Bento

 

 

Conheça mais sobre os jesuítas (clique):Santo Inácio de Loiola - Paróquia São Luís Gonzaga

 

 

Apoio Cultural: