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Misericordias
Domini in aeterno cantabo
Salmos
O Livro dos Salmos faz parte dos Escritos, que junto ao Pentateuco
e aos Profetas compõe a Bíblia Hebraica. Os salmos representam uma coleção de
poesia religiosa usada pelos judeus desde a época dos reis até as cerimônias no
Templo de Jerusalém, revelando sua fé e intimidade com Deus através da música.
Nos salmos o necessitado busca conforto e o satisfeito encontra júbilo.
Origem
A palavra ‘Salmos’ deriva do grego Psalterium, nome genérico de um grupo de
instrumentos de cordas beliscadas com os dedos ou tangidas com um plectro. Esta coleção
de poesias da Bíblia Judaica era acompanhada por estes instrumentos e recebeu
esta denominação na tradução da Bíblia do hebraico para o grego conhecida como
Septuaginta, realizada no século 2 A.C. por 70 sábios em Alexandria, atendendo
aos apelos dos judeus na diáspora (dispersão), ou seja, emigrados da Palestina.
Autoria
São 150 salmos; poesias onde a rima não se dá pelas palavras, mas através do
paralelismo e complementação de idéias e pensamentos. Há indicações de instrumentos
para o acompanhamento destes salmos e também para as
ocasiões a serem usados, e embora a tradição
indique o Rei Davi como o autor de todos os salmos, há textos atribuídos à Asaf,
Emã, Etã e aos filhos de Coré, provavelmente levitas cantores da época
pré-exílio. Cabe a Davi, certamente um músico habilidoso, a organização do culto
no Templo que seria construído por seu filho Salomão. Os mais antigos salmos
datam de 3.000 anos.
Numeração
Se compararmos várias fontes, notaremos diferenças quanto ao texto e à
numeração dos salmos. No século IV São Jerônimo utilizou-se da Septuaginta para
fazer a tradução de todo o antigo testamento para o latim, conhecida como
Vulgata. Com isso, copiou uma alteração na numeração dos salmos: os salmos 9 e
10 aparecem como um só, o mesmo ocorrendo com os salmos 114 e 115; por sua vez
aparecem divididos em duas partes os salmos 116 e 147. Da primeira tradução
retirou-se o Saltério Romano, utilizado nas Missas. Porém, uma versão
seguinte com correções, conhecida como Saltério Galicano, foi escolhida para o Ofício
Divino, que é o serviço religioso das Horas seguido nos conventos e mosteiros.
Atualmente a tradução mais moderna dos textos sacros é conhecida como Bíblia de
Jerusalém, feita diretamente dos idiomas originais, e por isso preferimos a
referência numérica do hebraico.
Temática
As formas literárias dos salmos compreendem Hinos, Súplicas, Lamentações e Ações
de Graças, misturando muitas vezes estes temas. As súplicas e lamentações podem
ser coletivas ou individuais, e é certo que o próprio Davi associa as tragédias
do povo judeu às suas próprias. Nisso apresenta-se a calamidade da vida, a
miséria do povo, mas também o mistério da criação e o louvor a Deus. Alguns
salmos são denominados imprecatórios, pois rogam infortúnios e destruição
aos inimigos. Estes salmos devem ser compreendidos atualmente como um grande
clamor pela justiça, e não pelo rancor e vingança.
Ofício
Divino
O Ofício Divino é rezado nos conventos e mosteiros, estando centrado na
recitação dos salmos em várias horas do dia: Matinas, Laudes, Terça, Sexta,
Nona, Vésperas e Completas - por isso é também chamado de Liturgia das Horas.
Esta salmodia é entoada em gregoriano, usando os modos eclesiásticos, conhecidos
como tons. Apenas o salmo 113 (In exitus Israel) é cantado num tom
diferente, conhecido desde o século XIV como tonus peregrinus. Durante
séculos, a única parte do ofício realizada na presença dos fiéis foi a vigília (Vésperas), e por isso os
músicos compuseram polifonias para salmos e antífonas deste serviço realizado
ao pôr do sol.
Nem sempre todo o texto dos salmos é musicado pelo compositor, mas
apenas alguns de seus versos.
[ clique acima ]
Programa I
Exsultate Deo (salmo 81)
Palestrina, Giovanni Pierluigi da (1525/26-1594)
Palestrina é considerado um dos maiores compositores da música renascentista.
Foi cantor na Capela Sistina e mestre-de-capela na Capela Giulia, em São João de
Latrão e em Santa Maria Maggiore. Sua principal obra, a Missa Papae Marcelli (já
apresentada pelo Audi Coelum), tornou-se paradigma da música da contra-reforma.
Este Exsultate Deo a 5 vozes (STTBB) é dividido em 6 pequenas partes,
representando cada verso do salmo, em contraponto imitativo.
Há uma indicação para o uso deste salmo na Festa das Tendas,
que lembra os 40 anos do povo judeu no deserto (após a saída do Egito) e as tábuas da Lei recebidas por Moisés no
Monte Sinai. O novo mês sempre se iniciava com a lua cheia: a Neomênia.
Gritai de alegria ao Deus, nossa força,
aclamai ao Deus de Jacó.
Elevai a música, soai o tamborim,
a harpa melodiosa e a cítara;
soai a trombeta pelo novo mês,
na lua cheia, no dia na nossa festa
Chantez à Dieu (salmo 96)
Sweelinck, Jan Pieterszoon (1562-1621)
Sweelinck, um exímio organista e cravista holandês, influenciou a música alemã como
professor de Scheidt e Praetorius. Compôs
um saltério em francês, de onde extraímos este salmo a 4 vozes mistas. Uma das
prioridades dos reformistas era a tradução da Bíblia para o vernáculo, tornando
os textos sacros acessíveis ao conhecimento e compreensão de todos. Sweelinck dá
continuidade à música calvinista, explorando a polifonia e a imitação. Nesse
concerto o salmo será cantado por um quarteto solista.
Cantai a Iahweh um cântico novo!
Terra inteira, cantai a Iahweh!
Cantai a Iahweh, bendizei o seu nome!
Proclamai sua salvação, dia após dia.
Psalmen 67
Fryklöf,
Harald (1882-1919)
Compositor romântico nascido em Uppsala, Fryklöf estudou no Conservatório de Estocolmo, tornando-se
organista e professor. Morreu aos 36 anos.
Prece coletiva após a colheita anual.
Do mestre de canto. Com instrumentos de corda. Salmo. Cântico.
Deus tenha piedade de nós e nos abençoe,
fazendo sua face brilhar sobre nós,
para que se conheça o teu caminho sobre a terra,
em todas as nações a tua salvação.
A terra produziu o seu fruto:
Deus, o nosso Deus, nos abençoa.
Que Deus nos abençoe,
e todos os confins da terra o temerão!
Beatus vir (salmo 112)
Monteverdi, Claudio (1567-1643)
Monteverdi foi um grande madrigalista e um dos primeiros compositores a fixar
uma forma para a ópera; também trabalhou intensamente com música sacra. Em 1641 publicou uma coleção de
37 obras sacras intitulada Selva morale et spirituale,
para várias formações vocais e instrumentais. É um compêndio de salmos, motetos,
madrigais espirituais e morais, com a diversidade de estilos usados durante os
30 anos que trabalhou como mestre-de-cappella da Basílica de São Marcos, em Veneza. Há dois salmos 112 nesta
coletânea,
da qual cantamos o Beatus vir primo, que é descrito 'a 6 voci
concertato con due violini et 3 viole da brazzo overo 3 Tromboni quali ancora si
ponno lasciare'.
Este hino (Elogio ao justo) inicia o Hallel (salmos 113 a 118) que os judeus
recitavam nas grandes festas.
Feliz o homem que teme a Iahweh
e se compraz em seus mandamentos!
Sua descendência será poderosa na terra,
a descendência dos retos será abençoada.
Na sua casa há abundância e riqueza,
sua justiça permanece para sempre.
Ele brilha na treva como luz para os retos,
ele é piedade, compaixão e justiça.
Feliz quem tem piedade e empresta,
e conduz seus negócios com justiça.
Eis que jamais vacilará,
a memória do justo é para sempre.
Ele nunca teme as más notícias:
seu coração é firme, confiante em Iahweh;
seu coração está seguro, nada teme,
ele se confronta com seus opressores.
Ele distribui aos indigentes com largueza;
sua justiça permanece para sempre,
sua força se exalta em glória.
O ímpio olha e se desgosta,
range os dentes e definha.
A ambição dos ímpios vai fracassar.
When David heard (2 Samuel: 19,1)
Tomkins, Thomas (1572-1656)
Proveniente de uma família de músicos, Thomas Thomkins trabalhou em Worcester e
em Londres, tornando-se membro da Capela Real. Ficou conhecido como sucessor de
William
Byrd. O moteto When David heard a cinco vozes (SATTB) é a única obra
deste repertório que não faz parte do Livro dos Salmos, mas expõe
expressivamente, em seu caráter dissonante, a lamentação de Davi diante da morte
de seu filho Absalão. Autor da maioria dos salmos, Davi compara suas dores
pessoais com as aflições de Israel.
O profeta Samuel narra a morte de Absalão, filho rebelado de Davi, que ao passar
por uma floresta em cima de um burro tem seus longos cabelos presos nos galhos de um
carvalho. Ficando suspenso, é morto por Joab e seus soldados. Quando Davi soube que Absalão
estava morto...
Subiu para a sala que está acima da porta e caiu em pranto.
E dizia entre soluços: Meu filho Absalão! meu filho! meu filho Absalão! Porque
não morri eu em teu lugar! Absalão, meu filho! meu filho!
De profundis (salmo 130)
Gluck, Christoph Willibald (1714-1787)
De origem tcheca e alemã, Gluck estudou em Praga, Milão e Viena, onde se fixou. Mais
conhecido como compositor de óperas e grande reformador desta linguagem,
escreveu poucas obras sacras, incluindo este De profundis (SATB), em 1787.
Trata-se de um cântico das subidas, ou seja, cantado por peregrinos a caminho do Templo em
Jerusalém. É entoado na liturgia (cristã) dos mortos, como prece de confiança e
esperança em Deus.
Das profundezas clamo a ti, Iahweh:
Senhor, ouve o meu grito!
Que teus ouvidos estejam atentos
ao meu pedido de graça!
Ele vai resgatar Israel de suas iniqüidades todas.
Nach dir, Herr, verlanget mich - Cantata BWV 150 (salmo 25)
Bach, Johann Sebastian (1685-1750)
Johann Sebastian Bach representa o ápice da criação musical sacra da Reforma
Luterana. Além de Paixões, Oratórios e missas, compôs mais de 200 cantatas
sacras, para várias ocasiões litúrgicas e festividades sociais. Nesta cantata
150,
Bach usa apenas os versículos 1, 2, 5 e 15 do salmo 25, intercalando-os com um
texto possivelmente escrito por ele mesmo. É uma das primeiras cantatas de Bach,
composta em Weimar,
ao estilo de Buxtehude. A formação é para solistas e coro, dois violinos, baixo contínuo e fagote (obbligato), e as
partes corais apresentam várias mudanças de andamento. O
motivo cromático descendente marca o ouvinte, assim como vários figurativismos.
Brahms utilizará o tema da chacona final na sua sinfonia n.4.
1. Sinfonia (abertura, instrumental)
2. Nach dir, Herr, verlanget mich (coro)
3. Doch bin und bleibe ich vergnügt (aria, soprano)
4. Leite mich in deiner Wahrheit (coro)
5. Zedern müssen von den Winden (terzetto, alto, alto, tenor)
6. Meine Augen sehen stets zu dem Herrn (coro)
7. Meine Tage in den Leiden (Ciacona, coro)
A ti, Iahweh, eu me elevo,
ó meu Deus, eu confio em ti
Que eu não seja envergonhado
que meus inimigos não triunfem contra mim
Estou e permaneço satisfeito porém,
Embora aqui se insurjam
Cruz, tormenta e outras provações,
Morte, inferno e o tudo mais.
Mesmo que a desgraça atinja Seu servo fiel,
O que está certo está certo e sempre estará.
Guia-me com tua verdade, ensina-me
pois tu és o meu Deus salvador
Eu espero em ti o dia todo
Os cedros costumam enfrentar
Muita adversidade diante dos ventos
E muitas vezes se abatem.
Põe teus pensamentos e ações em Deus
E não atentes nos que urram contra ti,
Pois Sua palavra diz algo muito diferente.
Meus olhos estão sempre em Iahweh
pois ele tira os meus pés da rede.
Meus dias de sofrimento
São por Deus em alegria transformados.
Os cristãos nos caminhos de espinhos
São conduzidos pela força e pelas bênçãos do Céu.
Tendo em Deus minha fiel proteção,
Não cuido do rancor dos homens.
Cristo, que está a nosso lado,
Ajuda-me a combater, vitorioso, todos os dias.
Laudate Dominum (salmo 117)
Marc-Antoine Charpentier (1645/50-1704)
Um dos maiores expoentes do barroco francês, Charpentier estudou com Carissimi
em Roma e trabalhou para os Jesuítas (em Paris), para a Condessa de Guise e
também com Molière e o teatro francês. Foi mestre-de-capela da Sainte-Chapelle (figura
ao lado) até sua morte.
Sua música
sacra, de extrema expressividade, requer uma ornamentação específica, que junto
à pronúncia francesa do latim adotada pelo Audi Coelum confere à obra uma
sonoridade distinta. A edição da partitura deste Laudate Dominum foi
feita a partir da fotocópia do manuscrito do autor (figura abaixo), conseguida graças à ajuda do
tenor brasileiro Daniel Issa, residente na Basiléia, Suíça. A obra é para
dois tenores e um baixo solistas, coro e contínuo.
Louvai a Iahweh, nações todas,
glorificai-o, todos os povos!
Pois seu amor por nós é forte,
e sua verdade é para sempre
Prelude & Nisi Dominus (salmo 127)
Marc-Antoine Charpentier (1645/50-1704)
Também um Cântico das Subidas, de peregrinos, atribuído a Salomão. Representa a
entrega à providência divina.
Se Iahweh não constrói a casa,
em vão labutam os seus construtores;
se Iahweh não guarda a cidade,
em vão vigiam os guardas.
É inútil que madrugueis,
e que atraseis o vosso deitar
para comer o pão com duros trabalhos:
ao seu amado ele o dá enquanto dorme!
Sim, os filhos são a herança de Iahweh,
é um salário o fruto do ventre!
Como flechas na mão de um guerreiro
são os filhos da juventude.
Feliz o homem
que encheu sua aljava com elas:
não ficará envergonhado frente às portas,
e ao litigar com seus inimigos.
Programa II
Laudate Dominum (salmo 150)
Aichinger, Gregor (1564/5-1628)
Este compositor alemão foi aluno de Giovanni Gabrieli em Veneza, escrevendo suas
primeiras obras sacras para vários coros e instrumentos. Este Laudate Dominum se inicia com um
dueto solista a cappella, vindo em seguida um verso a 8 vozes e instrumentos (2 coros
SATB).
Assim segue-se um trio, um quarteto, um quinteto e um sexteto (todos a
cappella), sempre
intercalados pelos coros, e finalizados pelo Tutti.
O salmo 150 é a grande doxologia (louvor) final do Livro dos Salmos. Conhecido como o
salmo dos músicos, menciona vários instrumentos, indicando a riqueza e a
grandiosidade no louvor divino dos serviços no Templo de Jerusalém.
Louvai a Deus no seu templo,
louvai-o no seu poderoso firmamento,
louvai-o por suas façanhas,
louvai-o por sua grandeza imensa!
Louvai-o com toque de trombeta,
louvai-o com cítara e harpa;
louvai-o com dança e tambor,
louvai-o com cordas e flauta;
louvai-o com címbalos sonoros
louvai-o com címbalos retumbantes!
Todo ser que respira louve a Iahweh!
Ainsi qu’on oit le cerf bruire (salmo 42)
Goudimel, Claude (1514/20-1572)
A
Reforma na França, Suíça e Holanda foi mais radical do que na Alemanha, pois
líderes como Calvino eram contrários à manutenção de elementos do catolicismo
presentes nas melodias e na liturgia luterana. Além disso, somente podiam usar
textos de origem bíblica, isolando o Livro dos Salmos como única fonte para a
música no serviço litúrgico. Após muitas tentativas, uma tradução completa do Saltério por Clément Marot e Théodore de Bèze foi publicada em Genebra em 1562.
Goudimel escreveu duas séries completas de música para o Saltério de Genebra. Os
calvinistas proibiam a elaboração musical, tornando as melodias dos salmos
simples, melódicas e piedosas. Os salmos eram cantados em uníssono pelos fiéis,
mas algumas polifonias foram compostas. Para sua segurança, Goudimel escreve:
'Acrescentamos ao canto dos salmos três partes, não para induzir a cantá-las na
igreja, mas para se rejubilar em Deus, em particular nas casas'. Com o
passar do tempo, esta prática doméstica também conseguiu lugar nos templos.
Goudimel foi assassinado no massacre da noite de São Bartolomeu.
Lamento do levita exilado.
Como a corça bramindo por águas correntes,
assim minha alma está bramindo por ti, ó meu Deus!
Minha alma tem sede de Deus,
do Deus vivo;
quando voltarei a ver a face de Deus?
As lágrimas são meu pão noite e dia,
e todo dia me perguntam: 'Onde está o teu Deus'?
Começo a recordar as coisas e minha alma em mim se derrama:
quando eu passava, sob a Tenda do Poderoso,
em direção à casa de Deus
entre os gritos de alegria, a ação de graças e o barulho da festa.
In te Domino speravi (salmo 31)
Desprez, Josquin (c.1440-1521)
Josquin Desprez foi o mais reconhecido e bem remunerado compositor da alta
renascença. Trabalhando para papas e reis ficou conhecido como o 'Príncipe da
Música'. Seu estilo contrapontístico define a escola flamenga e o coloca como um
dos principais compositores na história da música, influenciando Lasso e Palestrina. Apresentamos uma versão instrumental do In te Domino speravi:
Iahweh, eu me abrigo em ti.
Jauchzet dem Herrn alle Welt (salmo 100)
Mendelssohn, Felix (1809-1847)
Seu nome era Jakob Ludwig, mas a família de banqueiros se converteu do
judaísmo ao cristianismo, adotando o sobrenome duplo Mendelssohn-Bartholdy.
Símbolo do romantismo, morreu com apenas 38 anos, deixando uma vasta e
importante obra, entre sinfonias, oratórios, música de câmara e composições para
piano. Outra grande contribuição de Mendelssohn foi resgatar a obra de Johann
Sebastian Bach, criando uma memória histórica a partir da redescoberta do
barroco. O salmo 'Jauchzet dem Herrn alle Welt' (Aclamai ao Senhor, toda a terra)
para SATB a cappela apresenta uma seção intermediária cantada por um
grupo de solistas a oito vozes (SSAATTBB).
Este salmo é um hino doxológico, possivelmente entoado na entrada do santuário
para os sacrifícios.
Aclamai a Iahweh, terra inteira,
servi a Iahweh com alegria,
ide a ele com gritos jubilosos!
Sabei que só Iahweh é Deus,
ele nos fez e a ele pertencemos,
somos seu povo, o rebanho do seu pasto
Entrai por suas portas dando graças
com cantos de louvor pelos seus átrios,
celebrai-o, bendizei o seu nome.
Sim! Porque Iahweh é bom:
o seu amor é para sempre,
e sua verdade de geração em geração
Shestopsalmye
Rachmaninov, Sergei (1873-1943)
Rachmaninov
estudou no Conservatório de Moscou e após a Revolução foi para os Estados Unidos.
Esta peça faz parte das Vésperas, op.37 deste pianista virtuoso e
inspirado compositor.
Antes das Vésperas, Rachmaninov já escrevera uma 'Divina Liturgia de São João
Crisóstomo', mas obtém melhor êxito nas Vésperas, finalizada em 1915, quando o
compositor se encontrava em turnê pela Rússia com Koussevitsky, em concertos
durante a guerra. Rachmaninov utiliza cantos ortodoxos do século XII ao
XVII, onde aplica o princípio da orquestração coral: as vozes são trabalhadas
como instrumentos de uma orquestra, pensando-se mais nos timbres, contrastes,
registros e combinações, do que propriamente num contraponto linear marcadamente vocal.
O serviço na liturgia ortodoxa não permite o acompanhamento de instrumentos, e
por isso o coro canta a cappella. Shestopsalmye significa 'seis
salmos', uma doxologia abreviada:
Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens de boa vontade
Ó Senhor, abra meus lábios
e minha boca proclamará o seu louvor.
Lauda
Jerusalem (salmo 147)
Vivaldi, Antonio (1678-1741)
Vivaldi
era conhecido como 'il prete rosso', pois os cabelos deste padre eram ruivos.
Compôs inúmeros concertos e várias óperas, que o levavam aos grandes
centros da Europa. Foi inclusive admirado por Bach, que fez versões para órgão
de várias obras. Sua música sacra, entretanto, era praticamente
desconhecida até o início do século XX, quando descobriram mais de 50 obras de
Vivaldi na Biblioteca de Turim. Trabalhou no 'Ospedale della Pietà' (Veneza), uma
instituição de meninas órfãs, para quem escreveu a maioria destas obras. O salmo
Lauda Jerusalem foi escrito por volta de 1725, para dois sopranos
solistas, dois coros e duas orquestras. Num dos manuscritos encontramos os nomes
das solistas indicadas pela caligrafia de Vivaldi.
Glorifica a Iahweh, Jerusalém,
Louva o teu Deus, ó Sião:
pois ele reforçou as trancas de tuas portas,
abençoou os filhos no teu seio;
colocou a paz em tuas fronteiras,
com a flor do trigo te sacia.
Ele envia suas ordens à terra,
e sua palavra corre velozmente:
faz cair a neve como lã,
espalha a geada como cinza.
Ele atira seu gelo em migalhas:
diante do seu frio, quem pode resistir?
Ele envia sua palavra e as derrete,
sopra seu vento e as águas correm.
Anuncia sua palavra a Jacó,
seus estatutos e normas a Israel;
com nação nenhuma agiu deste modo,
e nenhuma conheceu as suas normas.
Cantate Domino (salmo 96)
Hassler, Hans Leo (1564-1612)
Hassler foi mestre-de-capela da corte em Dresden. Sua obra é influenciada por
Lasso e Gabrieli (Andrea), de quem foi aluno.
Este Cantate Domino é uma
peça
para cori spezzatti (coros separados), uma tradição veneziana onde os
grupos corais ocupavam os coros, balcões e altares laterais cantando de maneira
alternada e simultaneamente, explorando, assim, os efeitos arquitetônicos e
acústicos das igrejas.
Nesta obra temos 3 coros, cada um a 4 vozes (SSAT, SATB, ATBB). O coro central é chamado de cappella, onde todas
as vozes precisam ser cantadas, mesmo que acompanhadas por instrumentos. Os outros 2 coros podem ter suas linhas
(vozes)
substituídas por instrumentos.
Iahweh, rei e juiz
Cantai a Iahweh um cântico novo!
Terra Inteira, cantai a Iahweh!
Cantai a Iahweh, bendizei o seu nome!
Proclamai a sua salvação, dia após dia,
anunciai sua glória por entre as nações,
pelos povos todos as suas maravilhas!
Pois Iahweh é grande, e muito louvável,
mais terrível que todos os deuses!
Os deuses dos povos são todos vazios.
(interior da Basílica de São Marcos, Veneza)
Psalm
102 (salmo 103)
Chesnokov, Pavel (1877-1944)
A liturgia cristã na Rússia seguia a tradição bizantina do canto monódico, mas
no século XVII introduziu a polifonia, caracterizada pela homofonia e pela
recitação polifônica, tanto para coros de vozes iguais como para coros de vozes
mistas. Chesnokov é um dos grandes compositores ligados à Igreja Ortodoxa.
Estudou composição com Sergei Taneyev, e faz parte da Escola Moscovita de
composição, assim como Tchaikovsky e Rachmaninov, reconhecida pelo intenso
lirismo e expressividade. Escreveu um livro sobre regência e conduziu vários grupos corais
(incluindo o coro do Teatro Bolshoi) e compondo mais de 400 obras para esta formação. Este salmo 102 (numeração 103 na Bíblia de Jerusalém)
foi escrito para vozes masculinas, sendo cantado em eslavo antigo, a língua
utilizada na liturgia ortodoxa.
Ao lado temos o texto completo original do salmo
em eslavo antigo, e abaixo as transliterações para o alfabeto cirílico e para o
alfabeto latino do trecho utilizado por Chesnokov. O salmo 102 integra, como
antífona, a Divina Liturgia de São João Crisóstomo na Igreja Ortodoxa.
Благослови, душе моя, Господа,
и вся внутренняя моя, Имя святое Его.
Благослови, душе моя, Господа
и не забывай всех воздаяний Его:
очищающаго вся беззакония твоя,
исцеляющаго вся недуги твоя,
избавляющаго от истления живот твой,
венчающаго тя милостию и щедротами,
исполняющаго во благих желание твое:
обновится яко орля юность твоя. |
Blagoslovi, dushe moya, Gospoda,
i vsya vnutrennyaya moya, Imya svyatoe Ego.
Blagoslovi, dushe moya, Gospoda
i ne zabyvaj vseh vozdayanij Ego:
ochischayuschago vsya bezzakoniya tvoya,
istselyayuschago vsya nedugi tvoya,
izbavlyayuschago ot istleniya zhivot tvoj,
venchayuschago tya milostiyu i schedrotami,
ispolnyayuschago vo blagih zhelanie tvoe:
obnovitsya yako orlya yunost' tvoya
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Deus
é amor, De Davi
Bendize a Iahweh, ó minha alma,
e tudo o que há em mim ao seu nome santo!
Bendize a Iahweh, ó minha alma,
e não esqueças nenhum dos seus benefícios.
É ele quem perdoa tua culpa toda
e cura todos os teus males.
É ele quem redime tua vida da cova
e te coroa de amor e compaixão.
É ele quem sacia teus anos de bens
e, como a da águia, tua juventude se renova.
Psalm 148
Holst, Gustav (1874-1934)
Trombonista profissional, Holst estudou composição com Stanford e Vaughan
Williams, utilizando a música folclórica inglesa como inspiração para muitas
obras. Este Salmo 148 foi publicado em 1920, para grande coro (com divisi a 8) e
grande órgão, prevendo a possibilidade de acréscimos instrumentais, com cordas e metais. O tema principal é
baseado no hino 'Lasst uns erfreuen', uma melodia muito conhecida pelas
congregações protestantes - ainda hoje cantada,
que foi retirada do 'Geistliche Kirchengesang', uma coleção musical de
1623. A melodia é a seguinte:
O texto é parafraseado por Francis Ralph Gray e a obra apresenta 4 seções: a) na
primeira seção o
tema é apresentado em uníssono, b) na segunda seção o tema aparece no órgão com contraponto nas
vozes, c) temos uma harmonização do tema para vozes masculinas e depois para vozes femininas, d)
os baixos cantam o tema alargado, e as imitações nas outras vozes conduzem a um
vibrante 'Aleluia' final, quando o órgão e instrumentos são cortados e paira
uma fermata sobre as vozes do coro.
Senhor, que nos fez para Si
Ouça-nos cantar ante Vosso trono
Aleluia, aleluia!
Aceite o louvor reverente de Vossos filhos
Pelas Vossas obras maravilhosas e Vossos caminhos
Ondas que quebram em todas as praias
Parem ante Seus pés e O adorem
Ó torrentes que se apressam das montanhas
Abençoem Aquele cuja mão preenche suas fontes
Ó Terra, através do poder divino,
Serão sempre seus o tempo da semeadura e da colheita
Doces flores que perfumam o ar
Agradeçam Àquele que lhes fez belas
Ardam tochas da noite com chama constante
Brilhem em honra ao Seu nome
Ó, sol, a quem todas as terras obedecem
Renove dia após dia o nosso louvor a Deus
Observação: nestas notas de programa
utilizamos a tradução dos Salmos da Bíblia de Jerusalém (Editora Paulus)
A Agenda do Projeto Salmos:
Programa I
24 de maio, quarta-feira, 21h
Santuário do Sagrado Coração de Jesus
Largo Coração de Jesus 154 - Campos Elíseos
02 de junho, sexta-feira, 21h
Paróquia Santa Teresinha
Rua Maranhão 617 - Higienópolis
Programa II
28 de maio, domingo, 20h
Catedral Evangélica de São Paulo
Rua Nestor Pestana 152 - Centro
04 de junho, domingo, 20h
Basílica Nossa Senhora do Carmo
Rua Martiniano de Carvalho 114 - Bela Vista
Rosemeire Moreira, soprano
Claudia Habermann, soprano
Juliana Damião Christmann, soprano
Fabiana Portas, mezzo soprano
Vânia Pajares, mezzo soprano
Rúben Araújo, tenor
Emanoel Velozo, tenor
Guilherme Bracco, tenor
Silas de Oliveira, baixo
Roberto Rodrigues, regência
Coro:
sopranos:
Alessandra Ferrari Nascimento
Augusta Maria Bertoldi
Clarty Bacic Cavalcanti Galvão
Edna Velloso de Luna
Fátima Rocha
Márcia Araujo
Sílvia Navarro
Suzana Anita Saccardo
Vera Lucia Gushi
contraltos:
Beatriz Brejon
Fernanda Cardona
Isabel Vidigal
Izabel Donati Bracco
tenores:
Alexandre C. Moraes
André Pavão
Guilherme Bracco
Lourenço C. Santos
Marcelo Albarici
Marcelo Queiroz
Marcio Viggiani
Renato Machado Zaia
baixos:
Arnaldo Santa Rosa
Fabio Heydrich
José de S. e Mello Werneck
José Luiz Pimenta
Leandro Teixeira
Paulo Afonso G. Fessel
Rafael Palace Luz
Sergio Henrique Lima
Tiago Kaltenbacher
Orquestra:
Martin Tuksa (spalla), Abner Landim,* Andréa Campos*, Flavio Geraldini*, Gianni
Visoná, Gianpietro Saisi*, Oxana Dragos*, Ricardo Bem Haja*, Soraya Landim, Ugo
Fonda, violinos
Abrahão Saraiva*, Alexandre De Leon*, violas
Fabricio Leandro Rodrigues, Vitor Visoná*, violoncelos
Rubens De Donno*, contrabaixo
Marcos Fokin, fagote
Fernando Cardoso*, Gilberto Gianelli*, Marim Meira*, Roney Stella*, trombones
Michel de Souza, órgão Portativ e grande órgão*
Silvana Scarinci, teorba
* somente no programa II
Misericordias
Domini in aeterno cantabo
Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor
Apoio Cultural: Melhoramentos Papéis & Porto Seguro Seguros
Agradecimentos:
Pe. Leci Gomes da Costa
Santuário do
Sagrado Coração de Jesus
Carlos Eduardo Vieira
Catedral
Evangélica de São Paulo
Frei Antonio Silvio da Costa Junior
Basílica
Nossa Senhora do Carmo
Frei João Bonten
Paróquia
Santa Teresinha
Luis Fernando Carbonari
Marcio Viggiani
Daniel Issa
Sérgio Sesiki
Deborah Navarro
Felipe Nogueira Cobra
Ismael Caetano
Tatiana Bussyguin
Sergio Igor Chnee
Melhoramentos Papéis
Porto Seguro Seguros
Produção:
André Pavão
Fátima Rocha
Suzana Saccardo
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